A finitude do humano: reflexões sobre a morte e morrer

quarta-feira, maio 02, 2018



Morte. Palavra com cinco letras que designa o “fim da vida”, “a interrupção definitiva da vida de um organismo”. 

A morte é uma condição intrínseca a existência humana. O homem enquanto um ser finito, jamais pode se abster desta condição. Segundo Knausgård (2015), "no exato instante em que a vida abandona o corpo, ele passa para os domínios da morte. As lâmpadas, as malas, os tapetes, as maçanetas, as janelas. (...) Estamos permanentemente rodeados por objetos e fenômenos do mundo dos mortos" (p. 7-8). 

Mesmo estando rodeados por objetos e fenômenos relacionados ao mundo dos mortos, a sociedade contemporânea se recusa a encarar a morte como um fenômeno natural. Ela reprime e oculta tudo que se relaciona a isso. O corpo é escondido, os velórios são fechados, os cemitérios são escondidos e geralmente se encontram longe dos centros populacionais. 

Surgem questionamentos que ainda não obtemos respostas significativas. "Por que o homem teme tanto a morte?"; "Por que o homem é tão afetado pela morte?".

A sociedade contemporânea enxerga a morte com um dos grandes tabus de seu tempo. Mesmo estando cercados fenômenos relacionados ao mundo dos mortos, o homem sente a constante necessidade de escondê-la, de ocultá-la. Em hospitais, nossos mortos são levados para ambientes isolados, os corredores que levam até eles são solitários, ermos. Elevadores e acessos são sempre privativos. Mesmo que encontremos com eles, só veremos um corpo coberto sendo levado por uma maca. Ao deixarem os hospitais, fazem-no por saídas próprias e em carros especiais. Os velórios são sempre em lugares fechados. E por fim, terminam em cova de um cemitério afastado dos grandes centros populacionais, ou no calor de um forno. 

Por meio deste ocultamento da morte, demonstra como o homem não está preparado para debater questões desse gênero, pois, o homem só enxerga a morte do outro e nunca a sua. Assim como Heidegger afirmou, o homem é um ser-para-a-morte e ela é a única certeza proveniente da nossa existência. Ao longo da história, a morte não era considerada um tabu e em determinadas épocas, ela foi fortemente debatida, foi vivida como algo natural a condição humana. Entretanto, com o passar dos anos, isso foi se perdendo, foi sendo esquecido até se transformar em um tabu. Vale a pena destacar, que diferentemente da sociedade ocidental que presa pela negação da morte, a oriental prega a preparação para a morte. 

Notasse que o tabu da morte contribui para o fortalecimento de tabu em torno da intimidade. A intimidade aqui vai em direção contrária ao significado popular, que a relaciona com relações sexuais. A sociedade ocidental não preza pela intimidade, afinal, no universo capitalista, ter intimidade com outro indivíduo é visto como um sinal de fraqueza. A morte é desvelamento, ou seja, possibilidade, abertura. Ela é capaz de incentivar a solidariedade entre os homens, por isso, ela se torna tão temida, afinal, ela contesta as bases de nossa sociedade.

Portanto, não devemos temer a morte. Ela simboliza o fechamento de um ciclo. É um dos elementos que nos fazem ser humanos. 

Referências:
KNAUSGÅRD, Karl Ove. Minha Luta 1: A Morte do Pai. São Paulo: Companhia das Letras, 2015. 

KOVACS, Maria Julia. Educação para a Morte: Desafio na Formação de Profissionais de Saúde e Educação. São Paulo: FAPESP/ Casa do Psicólogo, 1° edição, 2004.

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