Heidegger e Saramago: Quando Filosofia e Literatura se encontram

domingo, abril 29, 2018



O falatório de Heidegger não carrega em seu cerne um sentido pejorativo. O mesmo designa o discurso acerca do modo de ser do homem cotidiano. Ao afirmar que “poeticamente o homem habita”, o filósofo alemão busca demonstrar que o homem habita a dimensão da linguagem. Linguagem essa que não é uma propriedade humana, uma vez que, o homem está inserido nela. Por meio da linguagem, o homem constrói significados para ele e para as coisas. 

A linguagem possibilita dois modos distintos de o homem estar nela. O primeiro modo (próprio) fornece a possibilidade de redescobrir os significados constantemente. Já o segundo modo (impróprio), não há essa redescoberta de significados, pois fornece a concepção de que tudo já se encontra pronto. Desse modo, somente ocorre uma repetição daquilo que já está pronto no mundo. O falatório se encontra nessa dimensão do impróprio. 

Por ser condição da existência humana, o falatório designa o discurso do senso comum; remete a repetição/reprodução de comportamentos, impossibilita a criação de significações. 

Além disso, o falatório traz dentro de si a publicidade, que se refere às possibilidades que os homens compartilham entre si. Possibilidades essas, que configuram o poder-ser do homem. A existência do homem cotidiano se dá sempre no mundo, não ocorrendo uma separação entre ambos. Logo, o poder-ser permite a compreensão e interpretação dessas possibilidades na qual o homem está inserido. 

Partindo da compreensão heideggeriana de falatório, podemos estabelecer relações com o documentário. O escritor português José Saramago corrobora que estamos vivenciando a caverna de Platão nos dias de hoje. Atualmente, atribuímos às imagens prontas que compõem a realidade a própria realidade. Este fato demonstra que não estamos atribuindo novas significações as coisas. Estamos somente repetindo (falatório) ações, comportamentos, dentre outros. 

O homem vive uma cegueira generalizada. A televisão cria infinitas imagens, que vão proporcionando a perca da reflexão sobre o que vemos. Todo esse excesso de imagens que encontramos no nosso cotidiano faz com que nos percamos no mundo. Não obstante, ficamos atados a fortes correntes observando as sombras da caverna. 

A possível saída da caverna pode ser descrita pelo que Heidegger considera por angústia. A angústia possibilita um florescimento do homem para si próprio. Possibilita que o homem se abra o mundo na qual ele está inserido. Através da angústia, o homem passa a ver como responsável pela criação de significados para as coisas. 

O homem precisa se realizar diariamente, ou seja, é uma construção diária. Deste modo, suas ações são as responsáveis pela geração da angústia. A angústia é um modo de existência autêntico, pois se aproxima da realidade cotidiana do homem. É pura possibilidade, sem determinação. É o caos; a quebra de sentido para se organizar e buscar novos sentidos e significações.

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