A República do Silêncio | Jean-Paul Sartre

quinta-feira, abril 12, 2018



O ensaio intitulado A república do silêncio foi publicado originalmente no ano de 1944, podendo ser encontrado atualmente no livro Situações III; uma coletânea que engloba diversos ensaios literários, filosóficos e políticos de Sartre. 

A partir deste texto, o filósofo francês realiza a construção da imagem de uma França resistente frente à ocupação nazista, para assim destacar que cada gesto feito durante a resistência era uma forma de engajamento em prol da liberdade, pois, afinal, “nunca fomos tão livres como sob a ocupação alemã” (SARTRE, 1971, p. 11). Esta citação que inicia o ensaio em questão faz referência à concepção sartreana de liberdade, dado que durante o período da ocupação alemã, a liberdade política havia desaparecido, entretanto, a liberdade ontológica de escolher permanecia inalterada. 

Se por um lado, não há liberdade política e nem de expressão na ocupação nazista, para o nosso filósofo, qualquer indivíduo já nasce livre, sendo assim, o homem é um ser livre ontologicamente. Essa liberdade se faz necessária porque ele está condenado a ela.

Na visão sartreana, somos tão livres que não podemos deixar um minuto sequer de escolher. Nesse sentido, só se pode prender ou torturar um indivíduo que, antes de tudo, é livre. Assim, podemos afirmar que mesmo sob a situação de tortura, perda de direitos, o indivíduo é livre ontologicamente e em situação, “porque o segredo dum homem não é o seu complexo de Édipo ou de inferioridade, é o próprio limite da sua liberdade, é o poder de resistência aos suplícios e à morte” (SARTRE, 1971, p. 12).

A liberdade sartreana se baseia no princípio da escolha, sendo que ela revela a responsabilidade que o indivíduo carrega sobre sua existência. Ao fazer uma escolha, o indivíduo assume total responsabilidade sobre ela, arcando com todas as suas consequências, visto que, “a escolha que cada um de nós fazia de si próprio, era autêntica, pois teria sempre exprimir-se sob a forma ‘Antes morrer do que (...)’” (SARTRE, 1971, p. 12). . 

Por ser livre, o indivíduo necessita escolher e com o ato de escolha, surge à angústia, que nada mais é do que o sentimento perante as responsabilidades das ações que o homem realiza. Na tentativa de livrar-se dessa angústia, o indivíduo tem a possibilidade de refugiar-se na má-fé, que nada mais é do que o ato de mentir para si próprio, a fim de aliviar a responsabilidade e angústia que são oriundas da existência humana. 

Para Sartre, o homem é livre em qualquer circunstância e a liberdade é um dos conceitos fundamentais de sua filosofia. A liberdade faz parte da realidade humana e o homem não pode abandoná-la, pois ele está condenado a ser livre. Por estarem frente à ocupação nazista e à tortura, que são situações-limite, os homens daquela época eram indivíduos livres ontologicamente, vivendo a situação da guerra. A liberdade se baseia na escolha e as escolhas realizadas frente a uma situação-limite revelam a responsabilidade e a angústia pelas ações que o indivíduo optou realizar. 

O homem é o produto de sua liberdade porque quotidianamente escolhe o que será pelas ações que irá praticar. Portanto, a liberdade não é algo que não temos e pode ser conquistada, ela faz parte da condição da existência humana, mas o seu exercício é constante.

Podemos concluir que a liberdade sartreana faz com que o homem exerça constantemente a sua capacidade de fazer-se. Ser livre não é uma opção, é algo que pertence a nossa realidade humana. Portanto, o homem é condenado a ser livre e ele não pode em nenhum momento abandonar a sua liberdade. Mesmo estando num regime ditatorial, no qual os direitos dos cidadãos são restringidos, o homem, na concepção sartreana, continua sendo livre.

Em A república do silêncio, vemos pessoas frente a situações-limite, como a tortura, guerras, ditaduras. As situações vivenciadas por essas pessoas são relatos vivos e subjetivos, que trazem a tona conceitos que são de suma importância para o existencialismo, como a condenação a liberdade, as escolhas do homem, a responsabilidade do homem frente às suas escolhas, o engajamento político, dentre outros.

Referências:

SARTRE, Jean-Paul. O existencialismo é um humanismo; A imaginação; Questão de Método. São Paulo: Abril Cultural, 1978. (Coleção Os Pensadores).
_______. O ser e o nada: ensaios de uma ontologia fenomenológica. Petrópolis, RJ: Vozes, 2011.
_______. Situações III. Braga: Publicações Europa-América, 1971.

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