A história da Filosofia nos mostra casos de pensadores que se apropriam dos gêneros literários conforme o contexto da época. Nos diálogos de Platão são empregados recursos literários, como personagens, linguagem narrativa e performativa, dentre outros. Também temos o exemplo de Parmênides com seu poema intitulado Sobre a natureza, que se utiliza de imagens e metáforas para elaborar os primeiros e grandes problemas filosóficos.
Não obstante, temos a figura do filosofo francês Jean-Paul Sartre, que expressa suas ideias filosóficas no romance, no conto, no teatro e no ensaio. Há também casos de pensadores que cunharam novos gêneros, como ocorre com as confissões de Santo Agostinho, de Rousseau.
Podemos mencionar grandes romances como os de Thomas Mann e de Robert Musil, que apresentam uma forte dimensão filosófica. Outros nomes como, Dante de Alighieri, Goethe, T. S. Eliot, William Shakespeare, Fernando Pessoa, Jorge Luiz Borges, Virgínia Woolf, podem ser lidos lado a lado com os grandes autores da Filosofia. Não nos esqueçamos de Machado de Assis, João Guimarães Rosa, Clarice Lispector, Graciliano Ramos, dentre outros, que expressam em suas obras questões de cunho filosófico.
A compreensão do movimento desse aproximação e distanciamento entre o filosófico e o literário, depende dos conceitos de Filosofia e Literatura. Mesmo com os problemas que essa delimitação carrega, ela nos permite identificar com clareza nos textos as qualidades literárias e as características inerentes ao pensar filosófico.
Deste modo, como podemos pensar as relações entre Filosofia e Literatura?
Observa-se que entre Filosofia e Literatura há uma relação forte e duradoura, que perpassa a história das duas. Essas relações não são de dominação ou submissão, mais sim, de entrelaçamento, de fusão, de criação e partilhamento de saberes. Ambas as áreas trazem valorosas contribuições que não devem ser ignoradas por um olhar retrospectivo, sob pena de cairmos numa parcialidade ingênua.
Perceber semelhanças, diferenças e conexões entre esses dois campos não é uma tarefa simples. Quando propomos uma delimitação ou até mesmo uma conceituação, estamos determinando as possibilidades de aproximação e distanciamento entre Filosofia e Literatura. Por exemplo, ao reduzirmos a Filosofia como a análise de argumentos, dificilmente poderíamos associá-la a uma poesia, ou a uma obra literária, visto que, a Literatura não possui uma preocupação com premissas e conclusões, que são elementos base da argumentação. A Literatura é a expressão de uma determinada época. A mesma não diz respeito somente ao cânone, mas a tudo aquilo que uma sociedade produz a fim de retratar algo que a representa.
Transcendo os limite da departamentalização do conhecimento, a relação entre Filosofia e Literatura demonstra a forma com esses saberes aparente distintos se inter-relacionam. Além disso, os diálogos existentes entre os campos supracitados nos permite visualizar os fios que tecem essa unidade indissociável entre ambas, demonstrando a existência de uma relação de complementariedade, mas também de diferenças; uma relação pautada em continuas aproximações e distanciamentos.