Me Chame pelo seu nome e me diga se gostou ou não | André Aciman
segunda-feira, março 12, 2018
É necessário odiar ou amar o livro. É necessário ter nem que seja um pequeno ponto de vínculo entre a obra e o leitor, porque é necessariamente nesse intervalo de personas que se descobre um elo tão ínfimo de relacionamento que é possível confundir realidade com ficção.
Em Me chame pelo seu nome é possível, ao mesmo tempo, amar e odiar o seu conjunto, já que todo o seu potencial está impregnado de uma casca que aos poucos vai sendo arrancada camada por camada até se descobrir uma história envolvente, original e diferente das muitas outras coisas iguais que já rolam por aí.
Lançado em 2007 nos Estados unidos e chegando no Brasil somente em 2018 após o lançamento do filme adaptado para os cinemas, Call me by your name de André Aciman é um renomado romance LGBT ambientado na Itália dos anos 1980, numa pequena região litorânea usada por muitos profissionais como refúgio para seus trabalhos e composições. Os próprios pais de Élio, um dos principais personagens do livro, acomoda forasteiros em troca de serviços pessoais. Um desses sujeitos visitantes é o professor de filosofia Oliver, que com 25 de idade e concluindo sua tese de doutorado, refugia-se na Itália para revisar seu livro, onde além disso terá o mais surpreendente caso de amor de verão com o singelo Élio.
Cheio de personagens característicos, o livro é perfeito para quem se apega a determinados detalhes: o próprio Élio que com apenas 16 anos se mostra um jovem autodidata, ouvinte de música clássica e instrumentista; seus pais, um casal a frente de sua época é um tanto liberalistas quanto as atitudes de seu filho; e o próprio professor Oliver, carismático, misterioso e muito filosófico em seus discursos. O livro tende a se mostrar muito mais interessante aos personagens que circulam aqueles que são principais, já que esses demonstram suas peculiaridades de diferentes formas. Aos poucos, em meio a uma atmosfera misteriosa e sedutora, Élio e Oliver veem-se ligados um ao outro de uma forma singela, sexual e apaixonante, captando a emoção do leitor que se embrenha nesse caso junto as deliciosas paisagens italianas. A história em si nada mais é que a história do desabrochar da sexualidade.
Aqui já entregamos o final desta resenha para os leitores, a obra de André Aciman é uma mescla de amor e asco, mas que de maneira alguma fará o leitor abandonar a vontade de se fazer gostar. Essa mescla de sentimentos que perpassa a narrativa forma um peculiar jogo de oposição; demonstra toda a força daquilo que nos faz humanos. Pensar sobre esses sentimentos exige que deixemos de lado todo o conhecimento que possuímos de lado, para que assim construímos uma nova visão sobre esses opostos.
Amor. O que é o amor?
Camões foi muito sábio ao afirmar que o mesmo é um fogo que arde sem ver. Que é uma ferida que dói e não sente. O amor ao qual o poeta lusitano canta é belo, um jogo de imagens opostas. Na lírica camoniana, a dualidade do amor é expressa de forma exemplar, alcançando assim, a essência do mais complexo dos sentimentos, que provoca em nós, meros mortais, prazer e sofrimento.
O amor é um sentimento universal que perpassa a existência humana. Buscamos de maneira natural vivenciar o amor, principalmente o amor romântico. Élio demonstra o quanto somos românticos ao narrar o tórrido e caloroso amor que sente por Oliver. Todo esse sentimento que é visualizado em suas palavras, causa em nós leitores reconhecimento. Todos nós somos românticos por natureza. Contudo, o amor que o nosso protagonista denota é exacerbado, causa incomodo. Em alguns momentos, causa um sentimento de asco.
O asco não exprime somente um sentimento de nojo ou ojeriza. Na obra de Aciman ele representa o incomodo, desconforto, irritação; desconcerto. Ao longo da narrativa, o asco se apresenta das mais variadas formas. Seja nas primeiras páginas, com a narração imatura de Élio, que nos leva a crer que iremos ler o relato de um garoto apaixonado. Seja na famosa cena do pêssego, aclamada por alguns, odiada por outros e vista como extremamente desnecessária para algumas pessoas.
Me chame pelo seu nome é uma obra boa, com uma história bem desenvolvida, no entanto, não é a maravilha que algumas pessoas estão retratando. Ela tem muitos pontos positivos, mas tem muitos pontos negativos. O próprio fato dela nos fazer amá-la e odiá-la merece uma certa cautela. Não podemos nos esquecer que a obra de Aciman é narrada por Élio em primeira pessoa. Um narrador assim não é confiável (vide Dom Casmurro de Machado de Assis), pois toda a história se passa somente pela sua perspectiva. Mesmo estando no terreno da ficção, não podemos distinguir o que de fato é verdade e o que é mentira.
Nos tempos sombrios em que vivemos, ver uma obra que retrata um romance entre dois homens aquece nossos corações e reacende a fagulha da esperança. Apesar dessa relação de amor e ódio, Me chame pelo seu nome vale a pena ser lido, relido nós já não temos certeza. Por enquanto, temos em mente que essa obra é uma grande antítese, que irá provocar um misto de sensações e sentimentos. Para nós, amor e asco é a antítese central da obra.
E você amigo leitor, qual antítese representa Me chame pelo seu nome?
Por Leonardo Júnio e Rodolfo Vilar
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